SINOPSE
A comédia Catalão-Macaubal, regada à viola caipira, trata das tradições e costumes da vida em comunidade, seus modos poéticos de interpretar a realidade e de questões quanto à posse de terra, religiosidade, amores e partidas.
’’ Nói vamo recebê as pessoa pra cum elas dividi u qui fô nosso. Nossa comida, nosso respeito, nossa festivindade.’’
____________________________________________________________________________
CATALÃO-MACAUBAL
A cada passo
buscamos o reencontro
com nossa própria
terra. E ela existe?
por Thiago França
Brinco percorre seu caminho e nota que seus pés já não cabem
em suas pegadas: resolve partir. Parte-se na incerteza de um chão que lhe
parece movediço e na esperança de firmar-se. João, envolto em uma sincera e
irresoluta paixão por Jandira, lhe propõe um novo olhar que permeia o sabor da
terra e o frescor da chuva, sem notar que, ao fazê-lo, ignora o que o silêncio
guarda no “oiá” de Brinco.
Jandira é festejada: será a primeira filha de Seu Valquírio
a casar. Ao passo que Amélia, a irmã mais velha, segue casada com o compromisso
de zelar pela terra e cuidar das irmãs mais novas. Dirce não demonstra muita
alegria com as vésperas do matrimônio de sua irmã - sente que deveria ser ela a
noiva. Maurícia, a mais nova, também anseia pelo momento de jurar amor eterno,
mas seu tempo é generoso demais – é ainda menina – e aquele, para quem lançaria
sua rosa, está de partida. Partilhando da vida familiar, Vó Nerstina - a
curandeira, benzedeira, violeira, guardiã da tradição e maior defensora do chão
de Catalão – lhes ensina a viver com alegria e gratidão prezando pelo respeito
e a espontaneidade.
Agregada à família, Tereza revela-se como sendo a faceta
irreverente da trama. Parece ter um caso com Zorato, um trabalhador de fala
solta, pouco recato e nenhuma coragem. Servino sempre o acompanha desde o
trabalho às inusitadas situações causadas por sua 'pitorescamente exótica'
família.
As tias de
Servino - Genuíta, Elódia e Olinda - são
senhoras encalhadas que buscam incessantemente encontrar homens disponíveis
para selarem compromisso. Talvez lhes veja alguma beleza aquele que guarda a
porteira: Jozimo, um homem dado ao truco e aos truques que sua cegueira lhe
permite.
Nesse chão familiar,
há também os que são desterrados pela circunstância: Tiana-Louca, que atravessa
a vida tranquila de Catalão-Macaubal
manifestando seu olhar estranho e não tão incoerente quanto
soa; Antônho-Morto, homem tido como ressuscitado e alvo das mais assombrosas leituras do povo, busca um pertencimento inalcançado;
E Tõe
D'Olvina, dono de terras vizinhas, homem mesquinho que é visto como um desafeto
do povo local. Catalão-Macaubal encerra em si uma diversidade de matizes de
cultura popular: crenças e cultura coletivista para além de instituição, a despeito de Padre Nicanor.
Este considera herege a tradição de vida devocional sem padre, com o agravante do não pagamento de impostos. “É mutivo di invadí. Invádi, Invádi”, diz
Tiana-Louca. Como de costume,
o tal padre
é expulso por Vó
Nerstina de posse
de sua arma: a viola.
Que estas cordas não desafinem no tanger duro dos que não lêem nela a alma da terra.
Que estas cordas não desafinem no tanger duro dos que não lêem nela a alma da terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário