sinopse e apresentação


SINOPSE
A comédia Catalão-Macaubal, regada à viola caipira, trata das tradições e costumes da vida em comunidade, seus modos poéticos de interpretar a realidade e de questões quanto à posse de terra, religiosidade, amores e partidas.

’’ Nói vamo recebê as pessoa pra cum elas dividi u qui fô nosso. Nossa comida, nosso respeito, nossa festivindade.’’

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CATALÃO-MACAUBAL
  A  cada  passo  buscamos  o  reencontro  com  nossa  própria  terra. E  ela  existe?  
por  Thiago  França

  Brinco percorre seu caminho e nota que seus pés já não cabem em suas pegadas: resolve partir. Parte-se na incerteza de um chão que lhe parece movediço e na esperança de firmar-se. João, envolto em uma sincera e irresoluta paixão por Jandira, lhe propõe um novo olhar que permeia o sabor da terra e o frescor da chuva, sem notar que, ao fazê-lo, ignora o que o silêncio guarda no “oiá” de Brinco.

  Jandira é festejada: será a primeira filha de Seu Valquírio a casar. Ao passo que Amélia, a irmã mais velha, segue casada com o compromisso de zelar pela terra e cuidar das irmãs mais novas. Dirce não demonstra muita alegria com as vésperas do matrimônio de sua irmã - sente que deveria ser ela a noiva. Maurícia, a mais nova, também anseia pelo momento de jurar amor eterno, mas seu tempo é generoso demais – é ainda menina – e aquele, para quem lançaria sua rosa, está de partida. Partilhando da vida familiar, Vó Nerstina - a curandeira, benzedeira, violeira, guardiã da tradição e maior defensora do chão de Catalão – lhes ensina a viver com alegria e gratidão prezando pelo respeito e a espontaneidade.

  Agregada à família, Tereza revela-se como sendo a faceta irreverente da trama. Parece ter um caso com Zorato, um trabalhador de fala solta, pouco recato e nenhuma coragem. Servino sempre o acompanha desde o trabalho às inusitadas situações causadas por sua 'pitorescamente exótica' família.

  As tias de Servino  - Genuíta, Elódia e Olinda - são senhoras encalhadas que buscam incessantemente encontrar homens disponíveis para selarem compromisso. Talvez lhes veja alguma beleza aquele que guarda a porteira: Jozimo, um homem dado ao truco e aos truques que sua cegueira lhe permite.

  Nesse chão familiar, há também os que são desterrados pela circunstância: Tiana-Louca, que atravessa a  vida tranquila de Catalão-Macaubal manifestando seu olhar estranho e não tão incoerente quanto soa; Antônho-Morto, homem tido como ressuscitado e alvo das mais assombrosas leituras do  povo, busca um pertencimento inalcançado; E Tõe D'Olvina, dono de terras vizinhas, homem mesquinho que é visto como um desafeto do povo local. Catalão-Macaubal encerra em si uma diversidade de matizes de cultura popular: crenças e cultura coletivista para além de  instituição, a despeito de Padre Nicanor. Este considera herege a tradição de vida devocional sem padre, com o  agravante do não pagamento de impostos.  “É mutivo di invadí. Invádi, Invádi”, diz Tiana-Louca. Como  de  costume,  o  tal  padre  é  expulso  por Vó  Nerstina  de  posse  de  sua  arma: a viola.

   Que estas cordas não desafinem no tanger duro dos que não lêem nela a alma da terra.

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